Êxodo econômico!
A inflação alta na Argentina provoca um movimento duplo de migração econômica. Enquanto brasileiros abandonam o país vizinho devido ao alto custo de vida, cada vez mais argentinos atravessam a fronteira em busca de preços mais íveis ou oportunidades de trabalho no Brasil. O “¡Hola, qué tal!” já pode ser ouvido no atendimento de bares, restaurantes, hotéis, supermercados e até no serviço de transfer no Floripa Airport. Estabelecimentos comerciais aram a exibir nomes que identificam a nacionalidade de seus proprietários, o que reflete essa mudança no cenário econômico local.
O movimento turístico é um alívio para o bolso de “los hermanos” e um ganho extra para a economia catarinense. A Argentina segue como um dos mercados mais relevantes, com voos diretos para Buenos Aires, Córdoba e Rosário, operados por companhias como Aerolíneas Argentinas, Gol e JetSmart. Mas é por terra, e pelas divisas de Uruguaiana/Paso de los Libres, Dionísio Cerqueira/Bernardo de Irigoyen e Foz do Iguaçó/Puerto Iguazú que os argentinos seguem rumo ao litoral. Um fluxo positivo reforça o impacto positivo da conectividade aérea no turismo e na economia do estado, especialmente em um momento de crise no país vizinho.
22% dos turistas nos balneários de Santa Catarina nas duas primeiras semanas de 2025 são argentinos e, entre os estrangeiros que visitam o estado, os argentinos representam 81% do total, segundo a Pesquisa de Verão da Fecomércio SC. A pesquisa também aponta que, os demais 19% são compostos por uruguaios, chilenos, paraguaios, portugueses e norte-americanos. O levantamento indica um aumento no gasto médio dos turistas estrangeiros, com alta de 37% em relação ao mesmo período de 2024, ando de R$ 8.416 para R$ 11.532, e isso acontece sobretudo pela desvalorização do real que proporciona um câmbio favorável aos argentinos.
A crise econômica na Argentina é marcada por um longo período de inflação alta. Embora o índice tenha caído 94 pontos (o que representa um avanço), ainda assim, a inflação fechou 2024 em 118%, o que corrói o poder de compra da população e agrava a miséria no país. Mais da metade dos argentinos (52,9%) está abaixo da linha da pobreza, enquanto 18,1% vivem em situação de indigência, conforme dados do Indec.
O movimento também impacta a entrada de brasileiros na Argentina. O número de brasileiros nos aeroportos internacionais de Ezeiza e Aeroparque caiu 6,8% entre novembro de 2023 e novembro de 2024, conforme o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Esse cenário se agrava ao considerar a redução de 25,5% na média de dias de estadia, uma evidência de que a Argentina deixou de ser um destino atrativo para o turismo e consumo.

E, para apimentar a relação e o fluxo de pessoas entre os dois países, o governo Milei quer reforçar barreiras na fronteira com o Brasil – um muro, especificamente em Dionísio Cerqueira–SC. A proposta não foi comunicada oficialmente ao Governo brasileiro, mas já movimenta a mídia e também faz ecoar a estratégia que é a mesma anunciada para a divisa com a Bolívia e levanta questionamentos sobre o endurecimento das relações diplomáticas.
Se antes a “rivalidade” ficava restrita ao futebol para saber quem era o melhor jogador do mundo – se era Pelé ou Maradona, agora a disputa assume contornos políticos, com a postura de Milei lembrando o atual Presidente dos Estados Unidos ao propor barreiras físicas para conter imigração ilegal e contrabando. A medida, que já causa tensão com a Bolívia, pode se tornar um novo ponto de atrito entre Brasil e Argentina e impactar também na circulação de mercadorias e pessoas na região.