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Crise ou crescimento? O Brasil está mesmo no caminho errado?

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O mercado é implacável com o Governo Lula. A cada semana, um novo ciclo de críticas surge, ofuscando qualquer indicador positivo, seja com dados ruins ou apenas não tão bons. A principal onda de críticas se concentra no déficit fiscal, ou seja, no crescimento do endividamento do Governo Federal. Esse dado preocupa? Sim, mas antes de alardes, é fundamental entender como o aumento das despesas tem sido utilizado para impulsionar o crescimento econômico.

Uma parte dos gastos governamentais está direcionada para programas sociais, que geram renda para a população mais pobre. Essas pessoas, com o pouco dinheiro que recebem, movimentam a economia ao consumir alimentos, bens e serviços essenciais. Isso fortalece o comércio, impulsiona os serviços e impacta diretamente o sistema produtivo.

O ciclo iniciado pelo Governo encontra respaldo nos fundamentos econômicos de John Maynard Keynes, que atribuía ao Estado a responsabilidade de alavancar a economia e estimular a demanda agregada. Esse movimento de gastos do Governo e das famílias impulsionou a economia e deu e ao crescimento do PIB.

Os números são claros: o PIB cresceu mais de três vezes o que o mercado projetava. Enquanto os analistas previam um crescimento de apenas 1,1%, o Brasil registrou uma expansão superior a 3,5% em 2024. O desemprego atingiu o menor patamar da história, 6,1%. Em Santa Catarina, o governador Jorginho Mello comemorou o que chamou de pleno emprego, com uma taxa de desocupação de apenas 2,8%, a menor em dez anos. Isso reforça a máxima de que, se o Brasil vai bem, Santa Catarina vai melhor ainda.

A geração de empregos também apresentou um forte desempenho. Com um saldo positivo de 31,1 mil postos de trabalho criados, a indústria foi o segundo setor da economia que mais gerou empregos em 2024 em Santa Catarina. Esse resultado foi significativamente superior aos 3,7 mil postos de trabalho industriais criados em 2023, conforme dados do Observatório FIESC – um crescimento 8,4 vezes. No total, considerando todos os setores econômicos, o estado gerou 106,4 mil vagas de emprego no ano.

A economia catarinense registrou aumento de 5,6% no acumulado de 2024 até novembro, conforme o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR) do Banco Central. O indicador, que é considerado uma prévia do PIB, ficou acima da média nacional para o período, de 3,8%. Segundo análise do Observatório FIESC, a indústria cresceu 7,3% de janeiro a novembro, enquanto o segmento de comércio ampliado teve um incremento de 7,7% e o setor de serviços subiu 6,6% em comparação com igual período do ano anterior.

Na indústria, o desempenho foi puxado pelos setores de equipamentos elétricos (+16,1%), máquinas e equipamentos (+12%), metalurgia (+10%) e vestuário (+9,4%), refletindo o aumento da demanda por esses produtos, impulsionada pelas vendas no varejo.

A análise do Observatório FIESC também aponta que o crescimento de vendas do comércio ampliado pode ser explicado pelo consumo das famílias, que impactou setores como veículos, motocicletas, partes e peças, com alta de 18,6% no acumulado do ano. O aumento de 14,4% nas vendas de eletrodomésticos e de 12,7% em artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos também contribuiu para o resultado positivo.

Já no setor de serviços, as atividades turísticas subiram 9,5% de janeiro a novembro, seguidas pelos serviços de transportes, auxiliares aos transportes e correio, que apresentaram incremento de 9,1%. Os serviços prestados às famílias cresceram 5,8%.

Mas há descomo no movimento de produção e consumo que tem pressionado os preços, o que gerou preocupação com a inflação. A inflação, medida pelo IPCA, ficou acima da meta em 2024, registrando 4,83%, um leve aumento em relação a 2023 (4,62%), mas ainda inferior ao pico observado em 2021 (10,06%). O gráfico a seguir ilustra a variação do índice nos últimos anos, demonstrando que, apesar das oscilações, a tendência geral aponta para um controle gradual da inflação.

A inflação dos alimentos é um dos principais focos de debate econômico no momento. Durante a abertura dos trabalhos legislativos de 2025, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro usaram bonés com a frase “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”, tentando atribuir ao governo Lula a alta dos preços dos alimentos. No entanto, os dados mostram outra realidade. Sob Bolsonaro, a inflação dos alimentos superou a média geral da inflação em três dos quatro anos de governo, chegando a quase 12% em 2022.

A alta recente dos preços dos alimentos está mais associada a questões climáticas e à disparada do dólar, que encarece insumos agrícolas, do que a qualquer medida do governo atual. Para mitigar esse impacto, o governo Lula adotou uma força-tarefa ministerial desde janeiro de 2025 para conter a inflação dos alimentos. A ideia é implementar medidas de estabilização de preços e fortalecer os estoques da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Além disso, a carne, um dos itens que mais pesam na inflação alimentar, registrou um aumento acumulado de 15,43% nos últimos 12 meses até dezembro de 2024, impulsionado pelo ciclo pecuário, mudanças climáticas e recordes de exportação. No primeiro ano do governo Lula, a inflação dos alimentos ficou abaixo da inflação geral: 1,03% pelo IPCA e 0,33% pelo INPC, ao contrário dos primeiros anos da gestão Bolsonaro, quando os alimentos dispararam mais de 14% em 2020.

A recente decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 13,25%, na primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo, contribuiu para uma tendência de queda do dólar. A moeda norte-americana, que vinha registrando oscilações, apresentou uma desvalorização após o anúncio, refletindo a percepção do mercado de um maior controle inflacionário e um cenário mais previsível para o fluxo de capitais no Brasil. O real é a segunda moeda que mais valorizou frente ao dólar em 2025.

 

Previsões erradas ou estratégia calculada? Quem lucra com a incerteza econômica?

O mesmo mercado que errou 95% das previsões, segundo levantamento do UOL, agora propaga a ideia de que o barco está afundando. Mas o barco está afundando para quem? Em Santa Catarina, os indicadores seguem surpreendendo. A FIESC comemorou os resultados de 2024 e o Governo também. Recordes de produção, exportação e geração de empregos demonstram um Estado fortalecido. Ainda assim, algumas narrativas insistem em afirmar que o Brasil vai mal. É necessário cuidar da inflação e do déficit fiscal, mas sem impedir um crescimento sustentável da economia. Melhor apostar na produção do que no caos e nas narrativas forjadas à sombra das eleições presidenciais de 2026.

O mercado produtivo precisa acreditar mais em seus próprios resultados e apostar em cenários mais realistas. Apostar mais na produção. O Governo do Estado também. Investir na produção e na economia real parece mais promissor do que se render às previsões especulativas do mercado financeiro. Afinal, os dados mostram que, apesar das críticas recorrentes, a economia continua girando e gerando oportunidades.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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