
A coluna da última semana atendeu a provocação dos editores do portal e procurou indicar algumas possibilidades que se apresentam para 2020. Mas esqueceu de fazer menção a – talvez – uma das mais importantes: A tendência cada vez maior de produzir bebidas com “terroir”.
O conceito começou possivelmente com o vinho, onde o solo e microclima garantem características únicas a cada lote. Mas produtores de cerveja, cachaça, gin e outros destilados perceberam que os consumidores buscam, cada vez mais, produtos com identidade. Justamente por isso estão desenvolvendo bebidas com características únicas para atender essa crescente demanda. Até porque, a ideia de uma bebida com um “DNA próprio”, tem um apelo de marketing enorme (e um potencial de exportação ainda maior).
Foto: Colorado/Divulgação
A Colorado é um bom exemplo deste movimento. A cervejaria já produzia uma cerveja de trigo com a adição de mel, mas lançou uma série limitada, que valoriza diferentes méis nativos do Brasil. Outras criações levam rapadura e castanha do Pará e há até uma série que tem como ingredientes frutas tropicais como uvaia, graviola e caju.
A AmazonBeer, do Pará, também tem usado frutas exóticas na produção de suas cervejas. São criações como a stout de açaí, e a witbier de teperebá (cajá) e até uma red ale com priprioca, uma erva aromática encontrada na região amazônica.
A ainda pouco conhecida cervejaria Albanos, de Minas Gerais, realiza expedições para estudar o uso de ingredientes mineiros na elaboração de cervejas. O projeto “Da Origem ao Copo” começou em agosto do ano ado, e o vídeo acima resume a ideia do projeto.
Foto: Albanos/Divulgação
A beersommelier Fabiana Arreguy, uma das idealizadoras do projeto, diz que a ideia foi buscar ingredientes que retratam “a riqueza e a multiplicidade do estado, como as famosas jabuticabas de Sabará, as compotas e doces tombados como patrimônio imaterial, e o famoso café do Sul de Minas”. A primeira criação da série é a stout(foto) com adição de compota de laranja-da-terra.
Foto: Fepeam/Divulgação
No Amazonas, pesquisadores de uma fundação estadual, elaboraram a primeira cerveja produzida a partir da fermentação de leveduras de três espécies de frutos nativos: araçá-boi, cacau e cupuaçu. O estudo é o primeiro o para produzir uma bebida com sabores e aromas únicos, além de ajudar a preservar as plantas nativas e gerar uma fonte de renda adicional para os moradores da região.
Foto: Lohn Bier/Reprodução
Já em Santa Catarina, a cerveja mais premiada dos últimos anos é uma produção que usa outro ingrediente amazônico: o cumarú, uma espécie de castanha com aroma e sabor de baunilha. Prova de que estes ingredientes exóticos tornam receitas únicas é o fato de que a Carvoeira, criação da Lohn Bier, conquistou nada mais, nada menos, que dez medalhas no Brasil e no exterior só em 2019. Para se ter uma noção da qualidade desta criação, das 100 medalhas já conquistadas desde a fundação da cervejaria, há cinco anos, 28 são da Carvoeira.
É preciso destacar também os testes com madeiras nativas do Brasil. Os experimentos são para substituir o carvalho no amadurecimento das bebidas e assegurar características únicas para vinho, destilados, ou mesmo cervejas – como a coluna já comentou anteriormente.
Enfim, alguns indícios de que nossa biodiversidade pode ajudar sobremaneira a produzir bebidas exclusivas e atender um público ávido por novidade e exclusividade.
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QUATRO EM UM
Por falar em tendências, uma destiladora do Reino Unido juntou algumas das principais tendências de mercado em uma única bebida. A Bramley& Cage estudou bem o perfil do novo consumidor e produziu um gin tônica único (foto).
Único porque:
1 – Tem como base o gin – cuja tendência de consumo continua em alta;
2 – É um drink em lata – e pronto para beber, o que facilita o transporte e consumo;
3 – Tem baixa caloria – só 50 calorias por lata, contra as 210 de um G&T tradicional;
4 – Tem baixo teor alcoólico – apenas 0,8%, contra os tradicionais 8% do drink original.
Para os puristas de plantão os destiladores também enlataram um G&T clássico, com 7% de teor alcoólico. O produto está sendo vendido por enquanto apenas no Reino Unido por aproximadamente R$ 15.
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NO PALITO
Foto: Frisabor/Divulgação
Ainda na linha da inovação, empresários pernambucanos provocaram um burburinho danado na última semana ao lançar um picolé de cerveja. A ideia da Frisabor e da cervejaria Ekäut foi juntar dois ícones do verão e oferecer um produto apresentado como uma “cerveja no palito”. Durante quatro meses a equipe das duas empresas testou diferentes bases e cervejas. E acabou optando pela American IPA, que tem sabor frutado e amargor bem destacado. O produto não tem adição de leite, o que permite atingir também o público vegano. O picolé é recomendado apenas para adultos, já que tem 3,2% de teor alcoólico.
Foto: Cervejaria Blumenau/Divulgação
A Smirnoff já produziu um produto parecido em parceria com a Cacau Show. E colocou no mercado um gelato que tem como base o famoso Ice.
Em Santa Catarina a experiência mais bacana foi uma parceria da Sorveteria Bonatti e a Cervejaria Blumenau, que produziram um sorvete (foto) que tem como base a premiada cerveja Frida Blond Ale. O produto foi apresentado na Oktoberfest do ano ado.