Dizem que saudosismo é sinal de velhice e não devemos cultivá-lo. Mas, ter saudades de uma época, que às vezes nem conhecemos, é permitido? Espero que sim. Esta semana partiu uma das últimas grandes divas da história do cinema. A italiana Gina Lollobrígida tinha 95 anos e sessenta filmes em seu currículo. Com ela vai-se também uma parte do glamour de tempos em que as grandes musas pareciam etéreas. Hoje, as coisas mudaram. As redes sociais nos informam sobre cada o das estrelas de cinema, os às vezes demasiadamente humanos. Perdeu-se aquela aura de mistério. Com a morte de Lollobrígida, ainda temos Sophia Loren, 88, Brigitte Bardot,88, Cláudia Cardinalle,84, reinando absolutas no panteão das maiores estrelas vivas. Espero que demore bastante para integrarem o céu de divas que abriga Ingrid Bergman, Katherine Hepburn, Greta Garbo, Bette Davis, Rita Hayworth, Ava Gardner, Marilyn Monroe…
Para além da beleza, glamour ou sexy simbol, é preciso ressaltar o quanto elas também foram/são ótimas atrizes e nos entregaram grandes interpretações. Selecionei alguns filmes, na esperança de que as novas gerações de cinéfilos conheçam um pouco o trabalho irável dessas mulheres. Felizmente, hoje a tecnologia nos permite ar filmes antigos. E, pela magia do Cinema, as que já partiram continuam vivas.
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Gina Lollobrígida ( 1927-2023) – Subiaco, Lazio, Itália
Gina fez várias comédias românticas, como a adorável “Quando setembro vier”. Recebeu o prêmio David Di Donatello, o mais importante da Itália, sete vezes. “Pão, Amor e Fantasia” (1953), “A Mulher Mais Bela do Mundo” (1955), “A Lei” ou “Salomão e a Rainha de Sabá” ( 1959) foram alguns de seus maiores sucessos. O filme que sugiro talvez não seja tão prestigiado, mas é uma delícia vê-la contracenando com Sean Connery nesse suspense.
A mulher de palha (Woman of Straw ), de 1964, dirigido por Basil Dearden, mostra Gina como a enfermeira de um homem rico e prepotente. O sobrinho dele, interpretado por Connery, arma um plano para que ela case com o patrão e herde sua fortuna. Não vou dar muito spoiler. O filme está disponível, gratuitamente, no YouTube. ( Veja o trailer)
Sophia Loren ( 1934), Roma, Itália
É reconfortante falar de Sophia no presente. Aos 88 anos, ela continua atuando, como se viu recentemente no tocante “Rosa e Momo” (2020), disponível na Netflix. Loren começou muito cedo no cinema e atuou em mais de cem filmes. Recebeu um Oscar por “Duas mulheres” ( 1960) e outro Oscar Honorário pelas contribuições para o cinema italiano e estadunidense. Orientada por seu marido, Carlo Ponti, o grande produtor já falecido, Sophia fez grandes filmes como “El Cid”, “A queda do império romano”e “Os girassóis da Rússia”. Entre tantas boas atuações fica até difícil escolher, mas ela está absolutamente magnífica ao lado do conterrâneo, Marcelo Mastroianni nesse filme.
Um dia muito especial (Una giornata particolare), de 1977, dirigido pelo grande Ettore Scola, é um desses filmes que nos faz chorar sem apelar para o dramalhão. A história se a em Roma , em 1938, quando Hitler e Mussolini selam o acordo que unirá Itália e Alemanha nos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Praticamente todo mundo vai ver esse encontro, menos Antonietta, uma dona-de-casa frustrada e infeliz – cujo marido fascista saiu para prestigiar o ato político- e Gabriele, seu vizinho recentemente demitido da rádio onde trabalhava por ser homossexual. Duas pessoas tão diferentes acabam se encontrando e desenvolvendo uma enorme empatia, um encontro lindo de ver. (Veja o trailer)
Brigitte Bardot ( 1934) – Paris, França
Brigitte foi um dos maiores sexy simbol do cinema nas décadas de 60/70. Linda demais, teve grandes romances e casou várias vezes, inclusive com o diretor francês Roger Vadim, que influenciou muito sua carreira. Ele a dirigiu no icônico “E Deus criou a mulher” (1956) e em vários outros filmes. BB foi dirigida também por grandes diretores como Jean-Luc Godard , Henri Georges-Clouzot e Louis Malle. Ela abandonou o cinema em 1973, quando ainda não tinha 40 anos, alegando que era uma forma de sair elegantemente. Mais tarde, declarou que detestava a vida superficial que a carreira lhe dava. Talvez Brigitte não tivesse segurança no seu talento, apenas na sua beleza, e temesse a velhice. Tornou-se ativista do bem-estar animal e, infelizmente, nos últimos manifestou opiniões racistas contra imigrantes e refugiados em seu país.
O desprezo ( Le Mèpris), de 1963, dirigido Jean-Luc Godard, pode não ter sido o mais popular, mas o filme mais importante da carreira de Brigitte Bardot. Baseado em um romance de Alberto Moravia, conta a história do roteirista Paul Javal que é contratado para trabalhar no script de uma adaptação de “A Odisséia”, sob direção de Fritz Lang em Capri, Itália, e produzida por Prokosch. Um dia, Javal deixa a mulher, Camille vivida por BB, , pega uma carona com Prokosch, e acaba se atrasando para encontrá-la. Camille pensa que o marido a está usando como um “presente” para o produtor, e o casamento se desfaz. O americano Jack Palance e Michel Piccoli contracenam com Brigite no filme. É bom que se diga, que Godard não agrada todo mundo com seus filmes considerados “intelectuais” demais. (Veja o trailer)
Cláudia Cardinale ( 1938) – Tunis, Tunisia
Nascida tunisiana, mas com nacionalidade italiana, Cláudia Cardinale , sempre teve uma presença acachapante nas telas sempre . Além disso, atuava em italiano, francês e inglês e soube escolher bons filmes e diretores [ ou foi escolhida por eles] que alavancaram sua carreira. Ela ainda atua em pequenos papeis. Entre os grandes títulos dos quais participou estão “Oito e meio”, do mestre Federico Fellini, “Os profissionais”, de Richard Brooks, “ Era uma vez no Oeste de Sérgio Leone”, “O belo Antonio”, de Mauro Bolignini, “A moça com a valise”, de Valerio Zurlini.
O Leopardo (Il gatopardo), de 1983, de Luchino Visconti venceu o meu desejo de escolher “A moça com a valise”, de outro diretor italiano que eu iro muito, Valério Zurlini. É que Cláudia Cardinale fez muitos e grandes filmes com Visconti, como “Vagas estrelas da Ursa”, “Violência e Paixão” e “ Rocco e seus irmãos”. O diretor adorava a jovem atriz e foi fundamental em sua carreira. Em “O Leopardo”, um de seus maiores sucessos, Cardinale contracena com Alain Delon e Burt Lancaster, na história ada na Sicília, em 1860. Lancaster é o príncipe Dom Fabrício que testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia durante o processo de unificação italiana. Ela é Angélica Sedara, filha de um burguês, e namorada do sobrinho de D. Fabrício, interpretado por Alain Delon. É do francês a frase chave para a compreensão do filme “ algo deve mudar para continue tudo como está”. O que a câmera faz com Claudia Cardinale é a prova de como Visconti era encantado por ela. Envolvendo a fotografia magnífica, está a trilha sonora de Nino Rota. Por tudo isso, “O Leopardo” recebeu a Palma de Ouro de Cannes, no ano de seu lançamento. ( Veja o trailer, com apresentação de Burt Lancaster)
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CHEGANDO EM STREAMING
The last of us – série – HBO/ HBO Max
A série mais badalada deste início de ano é baseada no jogo de videogame mais premiado da história. Ela chega em meio a uma enorme campanha de marketing e expectativa dos gamers. Talvez seja melhor não conhecer o jogo e assistir o primeiro episódio, já disponível, sem fazer comparações. A trama se a vinte anos após a destruição da civilização moderna e apresenta Joel, um sobrevivente experiente com um ado doloroso, que é contratado para contrabandear Ellie, uma garota de 14 anos, para fora de uma zona de quarentena opressiva. O que começa como um pequeno trabalho logo se torna uma jornada brutal e dolorosa, pois ambos devem atravessar os Estados Unidos e depender um do outro para sobreviver.
Downton Abbey II – Uma nova era – direção: Simon Curtis -2022-Telecine/Now
Os fãs da série que terminou depois de seis temporadas, em 2016, podem matar as saudades dos seus personagens favoritos no segundo filme que acaba de chegar no Telecine. Alguns dizem que “é mais do mesmo”, mas é um mesmo tão delicioso que a gente nem reclama. Como sempre os conflitos surgem e logo se resolvem, sem ficar maltratando o público muito tempo. Desta vez, a trama se divide em dois núcleos: metade do elenco viaja ao sul da França, onde a matriarca Violet herdou a mansão de um antigo pretendente; a outra metade fica em Downton Abbey, onde está sendo rodado um filme. Além das caras conhecidas, o elenco traz Dominic West, que acabamos de ver como príncipe Charles em “The Crown” e Hugh Dancy de “ Hannibal”, entre outros.
Um herói – direção: Asghar Farhadi – Telecine/Now – 2021
Nem todo mundo gosta do ritmo mais lento dos filmes iranianos, mas ninguém pode negar a profundidade de um cinema que sobrevive no regime ditatorial do Irã. O diretor Asghar Farhadi é um dos mais profícuos diretores iranianos, responsável por “ A Separação”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e do Urso de Prata em Berlim, em 2012. E “ Um herói”, ele conta a história de Rahim, um homem preso por não ter pago dívidas. Ele tenta convencer seu acusador a retirar a queixa, mas precisa pagar um alto valor. Um dia, chega às suas mãos a bolsa perdida de uma mulher e dentro há várias moedas de ouro. Parece a solução para os problemas de Rahim.
Eu, Tonya – direção : Craig Gillespie – 2018 – Netflix
O filme baseado na história da ex-patinadora Tonya Harding foi indicado ao Oscar e deu a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante para Allison Janey, como a mãe cruel da atleta. Tonya era uma estrela americana da patinação no gelo que emergiu na década de 1990. Ela superou várias adversidades na carreira, mas o que se destaca na biografia dela é um caso de agressão. Em 1994, durante os Jogos Olímpicos de Inverno, mais precisamente em 6 de janeiro, as TVs mostraram o desespero de outra patinadora americana Nancy Kerrigan chorando de dor e gritando “por quê?” diversas vezes. Ela havia sido cruelmente atacada com um bastão de metal. Com as pernas lesionadas, estava fora da disputa do ouro. Nancy era a principal rival de Tonya e chegou-se a conclusão que o agressor tinha sido Jeff Gilloly, marido de Tonya. O papel de Tonya rendeu indicações a prêmios para Margot Robbie.
My French Film Festival – Cine Belas Artes a La Carte- até 13 de fevereiro
O 13º My French Film Festival, realizado pela Uni, é um festival de cinema francês 100% online e gratuito, que acontecerá mais uma vez no streaming À La Carte, de 13 de janeiro a 13 de fevereiro. O festival reúne 06 longas-metragens e 17 curtas divididos em seis sessões temáticas. Dentre estas 24 obras, haverá 22 produzidas nos últimos três anos, mais dois cults imperdíveis, lançados há exatos 40 anos. Repleto de novos talentos por trás e à frente da câmera, esta edição inclui alguns artistas veteranos como o ator Denis Podalydès, e os diretores Maurice Pialat, com “Aos Nossos Amores”, de 1983, filme que revelou a atriz Sandrine Bonnaire, e Olivier Assayas, com o curta “Laissé inachevé à Tokyo”, também de 1983.
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THE END